quinta-feira, 15 de março de 2007

Dar a outra face


resolvi colocar aqui um trecho de um dos meus livros favoritos, "Análise da Inteligência de Cristo" do psiquiatra e psicoterapeuta cristão Augusto Jorge Cury, diante de tanta violência e morte, de tanta falta de consideração para com o próximo, falta de valorização a vida, em um tempo onde os valores são outros e o sentido de certas palavras como respeito e amor foram deturpadas creio q esse texto possa ser de grande valia.

O DISCURSO DE CRISTO SOBRE DAR A OUTRA FACE.

"Quando Cristo queria mostrar a necessidade vital de tolerância nas relações sociais, ele não proferia inúmeras aulas sobre o assunto, mas novamente usava gestos surpreendentes.Ele dizia que se alguém batesse numa face era também para oferecer a outra, e por diversas vezes ele deu a outra face para seus opositores, ou seja, não revidava quando o agrediam ou o ofendiam. Cristo não falava da face física, da agressão física que compromete a preservação da vida. Ele falava da face psicológica.
Se fizermos uma análise superficial, poderemos nos equivocar e crer que dar a outra face parece uma atitude frágil e submissa. Todavia, temos de nos perguntar: dar a outra face é um sinal de fraqueza ou de força? Dar a outra face incomoda pouco ou muito uma pessoa agressiva e injusta? Se analisarmos a construção da inteligência, constataremos que dar a outra face não é um sinal de fraqueza, mas de força e segurança. Só uma pessoa segura dos seus próprios valores é capaz de elogiar o seu agressor. Quem dá a outra face não se esconde, não se intimida, mas enfrenta o outro com tranquilidade e segurança.
Quem dá a outra face não tem medo do agressor, pois não se sente agredido por ele, e nem tem medo de sua própria emoção, pois não é escravo dela. Além disso, nada perturba tanto uma pessoa agressiva do que dar a outra face, do que não revidar sua agressividade com agressividade. Dar a outra face incomoda tanto que é capaz de gerar insônia nela. Nada incomoda tanto uma pessoa agressiva do que ter atitudes complacentes com ela.
Dar a outra face é respeitar o outro, é procurar compreender os fundamentos da sua agressividade, é não usar a violência contra a violência, é não se sentir agredido diante das ofensas que lhe desferem. Somente uma pessoa que é livre, segura e que não gravita em torno do que os outros pensam e falam de si é capaz de agir com tanta serenidade.
A psicologia do 'dar a outra face' protege emocionalmente a pessoa agredida e, ao mesmo tempo, provoca a inteligência das pessoas violentas, estimulando-as a pensar e reciclar a própria violência.
Cristo era uma pessoa audaciosa, corajosa, que enfrentava sem medo as maiores dificuldades da vida.Era totalmente contra qualquer tipo de violência. Todavia, ele não discursava sobre a prática da passividade. A humildade que proclamava não era fruto do medo, da submissão passiva, mas da maturidade da personalidade, confeccionada por intermédio de uma emoção segura e serena.
Cristo, através do discurso de dar a outra face, queria proteger a pessoa agredida, fazê-la transcender a agressividade imposta pelo outro e, ao mesmo tempo, educar o agressor, levá-lo a perceber que a sua agressividade é um sinal de fragilidade.Nunca o agressor foi combatido de maneira tão intensa e tão elegante!
Na proposta de Cristo, o agressor passa a revisar a sua história e a compreender que ele se esconde atrás de sua violência.
Com essas palavras, Cristo implodiu os paradigmas que até hoje se arraigam na sociedade, que expressam que a violência deve ser combatida com a violência. O mestre da escola da existência demonstrou que a força está na tolerância, na complacência e na capacidade de conduzir o outro a se interiorizar.Lembro-me de um paciente que foi agredido verbalmente por um de seus parentes. Este paciente não ofereceu motivos importantes para ser agredido. Seu agressor foi injusto e muito áspero com ele. Porém, ele foi até este parente e pediu desculpas por tê-lo ferido em alguma coisa. A sua reação de humildade caiu como uma bomba no interior do agressor, que emudeceu e ficou perturbado.Neste momento, caiu em si, se interiorizou e enxergou sua própria agressividade.Assim, disse que era ele que estava errado e que deveria ser desculpado.Com isso, ambos reataram um relacionamento que demoraria anos para ser reatado e que, talvez, nunca mais fosse o mesmo.O relacionamento que voltaram a ter se tornou mais aberto e rico do que antes.
Muitas pessoas têm medo de se reconciliar, de estender as mãos para os outros, de pedir desculpas, de passar por tolos, por isso defendem suas atitudes e seus pontos de vistas com unhas e dentes. Esse procedimento não é aliviador, mas angustiante.Os pais que aprendem a pedir desculpas para os filhos não perdem a sua autoridade, mas se tornam pessoas admiradas e respeitadas por eles.Somos ótimos para detectar as falhas dos outros, mas míopes para enxergar as nossas.
Na escola da existência de Cristo ele combatia a violência com a antiviolência.Ele apagava a ira com a tolerância, reatava as relações com a humildade.
Através de seus gestos, ele marcou para sempre a história de seus discípulos e fez com que o mundo, apesar de não vivenciar seus ensinamentos, o admirasse profundamente.Infelizmente, em detrimento de haver leis, batalhões de soldados e sistema de punição, a violência física e psicológica faz parte da rotina das sociedades modernas.O mundo moderno é violento.A televisão transmite programas violentos.A competição profissional é violenta.Em muitas escolas clássicas, onde deveria reinar o saber e a tolerância, a violência tem sido cultivada.Violência gera violência.Spinoza, um dos pais da filosofia moderna, que era judeu, expressou que Jesus Cristo era sinônimo de sabedoria e que as sociedades envolvidas por guerras de espadas e guerras de palavras poderiam encontrar nele uma possibilidade de fraternidade."

Nenhum comentário: