sexta-feira, 29 de junho de 2007

UM LUGAR DE DESTAQUE PARA AS MULHERES NA ESCOLA DA EXISTÊNCIA



No projeto de Cristo não havia lugares só para os homens, os apóstolos e líderes masculinos, embora a sociedade da época supervalorizasse o homem. Nele, as mulheres tiveram um destaque fundamental. Elas sempre aprenderam com mais facilidade a linguagem do amor do que os homens. Aliás, os gestos mais sublimes para com Cristo foram produzidos pelas mulheres, das quais destacarei duas.
Uma delas foi Maria, irmã de Lázaro, um dos amigos de Cristo. Ela tinha uma frasco de alabastro contendo um precioso perfume. Aquele perfume era caríssimo, talvez a maior preciosidade que ela possuísse. Maria amava muito o seu mestre. Foi tão cativada por ele e por suas palavras incomuns que não sabia como expressar sua gratidão. Além disso, estava muito entristecida porque, diferente dos discípulos, tinha entendido que Cristo estava próximo de sua morte. Diante de tanto amor e de tanta dor, ela teve um gesto inusitado: deu-lhe o que tinha de mais caro. Quebrou o vaso de alabastro e derramou seu perfume sobre a cabeça de Cristo, preparando-o para sua morte, pois os antigos perfumavam os cadáveres.
Alguns discípulos consideraram sua atitude um desperdício. Entretanto, para ela, aquilo não era um desperdício, era muito pouco perto do amor que sentia por ele, perto da dor da sua partida. Cristo entendeu a dimensão do seu gesto e ficou tão comovido que expressou que onde as suas palavras fossem propagadas, o seu gesto seria divulgado para a memória dela. O gesto daquela mulher foi um memorial de amor, que chegou até os dias de hoje.

Uma outra mulher fez um gesto sublime para com Cristo. Ela não tinha recursos financeiros nem tinha um perfume tão caro para aspergir sobre ele. Todavia, possuía um outro líquido não menos precioso: suas lágrimas. Essa mulher era desprezada socialmente e reprovada moralmente, porém Cristo havia passado por ela e transformado a sua vida. Vejamos essa história.
Cristo foi convidado para participar da refeição na casa de um fariseu. De repente, entrou uma mulher chorando e derramando lágrimas sobre os pés de Cristo. E como não dispunha de toalha, ela, constrangida, os enxugou com seus próprios cabelos.
Cristo nunca exigiu que as pessoas se dobrassem aos seus pés, entretanto, muitos o fizeram os ditadores sempre usaram a força para conseguir tal reverência. Porém as que se dobravam aos pés de Cristo não o faziam por medo ou pressão, mas por amor. Elas se sentiam tão compreendidas, amadas, perdoadas e incluídas que eram atraídas por ele.
Aquela mulher era famosa por sua imoralidade. O fariseu, anfitrião, conhecia a história dela. Quando ela chorou aos pés de Cristo, ele começou a criticar os dois em seus pensamentos. Para aquele fariseu moralista e rígido, o gesto dela era um escândalo e a atitude complacente de Cristo era inadmissível. Não concebia que alguém que tivesse dignidade se misturasse com aquele tipo de gente.
O fariseu era ótimo para julgar, mas seu julgamento era superficial, pois não conseguia perceber os sentimentos mais profundos do ser humano, não conseguia compreender que as lágrimas daquela mulher não expressavam um choro comum, mas eram resultado de uma profunda reflexão de vida. As palavras de Cristo tinham mudado o seu viver. Ela aprendeu a amá-lo profundamente e havia encontrado um novo sentido para a sua vida, por isso, sem pedir licença, invadiu a casa daquele fariseu e debruçou-se sobre os pés do seu mestre. Não se importou com o julgamento que fariam dela.
Cristo ficou tão comovido com o gesto daquela mulher que ele, mesmo estando em situação delicada por ter tantos opositores, também não se importou em desgastar mais uma vez a sua imagem social. Aquela cena era comprometedora, poderia gerar más interpretações. Qualquer um que se preocupasse com a sua imagem social ficaria incomodado pela maneira como aquela mulher entrou e pelos gestos que fez. Todavia, para aquele mestre afetivo, os sentimentos dela eram mais importantes do que o que outros pudessem pensar e falar dele.

Cristo não lhe fez perguntas, não indagou sobre seus erros, não questionou sua história, apenas compreendeu e a tratou gentilmente. Após esse tratamento, o mestre da escola da existência se virou para o fariseu, provocou a sua inteligência e abalou os alicerces do seu juízo e de sua moralidade superficial com uma história. Ele discorreu sobre duas pessoas que possuíam dívidas. Uma era aquela mulher e a outra era o próprio fariseu. As duas tiveram suas dívidas perdoadas. Cristo o levou a concluir que aquela mulher, por ter consciência de que sua dívida era maior, tinha valorizado mais o perdão, ficado mais aliviada e amado mais aquele que a perdoara.
Com essa história, Cristo levou aquele crítico fariseu a compreender que, pelo fato de aquela mulher ter feito uma profunda revisão de sua história, ela havia aprendido a amar mais do que ele que se considerava justo. Por meio dessa história, também levou-o a pensar que ele, embora conhecesse toda a lei judaica e se gabasse de sua justiça e moralidade, era infeliz, vazio e tinha uma vida teatral, pois não conseguia amar. Assim, ele demonstrou que onde a auto-suficiência e a arrogância imperam, o amor não consegue ser cultivado. E, por outro lado, onde impera a humildade e uma revisão sem medo e sem preconceito da história de vida, o amor floresce como num jardim. O orgulho e o amor nunca florescem no mesmo território.
As duas mulheres, com seus gestos delicados, surpreenderam aquele mestre que vivia surpreendendo todas as pessoas. Esses gestos evidenciam que, quando as mulheres entram em cena, conseguem ser mais sublimes do que os homens. Elas sempre foram mais rápidas para compreender e incorporar a linguagem sofisticada do amor do mestre da escola da existência. O amor sempre gerou gestos mais nobres e mais profundos do que o poder e a justiça moralista masculina...

"A Análise da Inteligência de Cristo" (Augusto Jorge Cury)

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